segunda-feira, 23 de julho de 2007

Boa noite pra quem é de boa noite. Bom dia pra quem é de bom dia...

Remete-me à infância, às viagens anuais de férias à minha terra Bahia, a imagem e o nome do bicho. Lembro da garotada jogando bola no campinho de areia. Pés descalços, "vassourinha" no cós do calção após goladas fartas d'água e zuada. A bola de borracha ia e vinha, atrás do objetivo sagrado do futebol, o gol. Eram assim os babas - peladas, no bom baianês, no campinho perto da casa de minha vó, ocorridas religiosamente em todas as tardes.
Poucas coisas paravam o baba. A bola escapar das cercas do campo e ir para o meio da rua, ou quando rasgava-se no farpado da cerca e quando o bicho aparecia. Seu zumbido grave e forte, seu vôo pesado, aparentando esforço em carregar o próprio corpo robusto e impressionantemente negro. Alguém de pronto gritava, para desabalada carreira de todos.
"Mangangá! Mangangá!" - O grito se espalhava pelo canpo e as cabeças voltavam-se para cima, guiando-se pelo zumbido inconfundível. Fácil achá-lo. Medo flagrante. Lembarava-me dos ensinamentos de meu Tio Guri. "Picada de Mangangá dói que só o cabrunco. É dor, meu sobrinho. E é quatro dia e quatro noite de febre direto", dizia sempre que o besouro-abelha surgia, o irmão mais novo de minha mãe, companheiro inseparável das peripécias do menino Jacson na Bahia.
Mas junto com o medo, inegável, havia o fascínio. Dos moleques do baba, ninguém corria a ponto de não vê-lo. Mantinha distância, mas a cabeça para cima, boca aberta. Se se aproximava, corria mais um pouco, parava, voltava a olhar. Era assim com o Mangangá. Poder tirano, com elegância e soberba, em forma de inseto. Mas lembrar nunca é demais. Picada de Mangangá dói que só o cabrunco... E é quatro dia e quatro noite de febre...

2 comentários:

Anônimo disse...

Lendo esta matéria, lembro-me com saudades da minha gostosa infância. Onde todas as tardes íamos com entusiasmo no "campinho" pegar o nosso delicioso "baba". Fico feliz em saber que não esqueceu as raízes. Forte abraço!! Antonio Paim, Catu-(BA).

Anônimo disse...

Arrepiou-me quando Paim mostrou a tal matéria, lembrei-me do Jacson (guri), obrigado pela lembrança da velha e querida terra, agradeço a Deus triplamente, primeiro, por vc ter se tornado o que se tornou, segundo por nunca ter fugido das nossas raizes e pelo sucesso, vc vai longe Garoto, mas, cuidado com o Mangagá, pois, o mundo esta cheio deles. Um forte abraço seu velho tio que não é mais tão guri, te amo.- Parabéns mais uma vez pela linda e interessante matéria!!!